25 de nov. de 2010

Um brinde à amizade!

Depois de muito tempo sem escrever venho fazer uma pequena homenagem a uma pessoa que fez toda a diferença na minha vida portenha: Michele!
Uma grande guria que tive o prazer de conhecer quando cheguei aqui e com quem dividi vários momentos, uns felizes e outros nem tanto, mas que sempre esteve presente de alguma forma no meu dia-a-dia.
Escrevo porque sábado ela está completando esse ciclo e voltando ao Brasil. Felicidade pra ela que vai retomar a vida em família, o contato com os amigos de lá e vários corações apertados, cheios de saudades que ficarão aqui em Buenos Aires.
Acho que o que mais me toca nessa situação é me dar conta que meu ciclo aqui também está terminando e ainda não decidi o que fazer (isto é assunto pra outro post...) e saber que em algum momento vou ter que me despedir da galera daqui.
É díficil, o coração fica dividido, mas uma coisa é certa: a amizade sempre fica, independente da parte do mundo em que estivermos, porque os laços que criamos aqui nesses quase dois anos de convivência ninguém desfaz. Afinal como diz o poeta Jorge Drexler: nada se pierde, todo se transforma!"

TE ADORO Mi, muito boa sorte nessa nova jornada e estarei sempre aqui pro que tu precisar!!

30 de jun. de 2010

Dança no gelo

Lembram desse quadro do Faustão?  Pois me senti uma celebridade quando descobri uma pista de patinação no gelo aqui e justamente onde fizeram a versão da Dança no Gelo daqui, hehe. A convite da minha amiga Monique lá fui eu, sem nem saber se ia conseguir parar em cima dos patins.

Graças a deus, foi bem mais fácil do que esperava e meu passado de patinadora me ajudou bastante, apesar deu ter levado um tombinho básico, hehe. Fora o frio (devia fazer uns 4oC na pista) achei super divertido patinar e até arrisquei alguns movimentos que fazia antigamente...muito básicos claro.



Fica a dica pra quem se animar! Ice Planet - Rivadavia  7431                          (http://www.theiceplanet.com.ar/flo/homeflo.php)

27 de jun. de 2010

Quem espera sempre alcança!!

Sábia frase da minha mãe! Depois de quase 1 ano e meio morando aqui, procurando vagas todos os dias, mandando milhares de currículos, o milagre aconteceu: consegui um emprego!! Sim e pasmem, foi resultado de uma entrevista que fiz em agosto do ano passado, nem lembrava mais, hehe.

Recebi uma ligação do dono da empresa me perguntando se eu ainda morava aqui e se tinha interesse no emprego. Disse que poderia trabalhar meio turno por enquanto, já que estou trabalhando na produção de uma peça de teatro que deve estreiar em agosto.

A empresa se chama Latin Lingua (http://www.latinlingua.com), onde vou fazer traduções do inglês pro português e do espanhol pro português! Não posso descrever a emoção ao sair da empresa com a certeza de que começaria na outra semana!
bi
Liguei pra minha família pra dividir esse momento, afinal foi muito tempo de luta, de dias deprês, sem vontade nem de estudar, porque faltava alguma coisa na minha vida aqui.

A primeira semana foi muito legal, conhecendo o ambiente, as pessoas, me acostumando a uma nova rotina. Estou muito feliz!!Agora posso dizer que estou completa e certamente vou começar uma fase de novas descobertas por aqui.

Obrigado a todos que me deram força e que torçeram pra que isso acontecesse!!

16 de jun. de 2010

Novas descobertas!!

Quando cheguei em Buenos Aires em março havia uma nova moradora na casa, uma austríaca chamada Martina. A amizade chegou logo, afinal ela é muito divertida, preocupada em ajudar os outros, coisas que se percebem em pouco tempo. Ela estuda ciências políticas e veio fazer uma pesquisa pra tua dissertação de mestrado que será sobre as Mães da Praça de Maio.

Agora que é sua última semana aqui, está tendo uma intensa “programação” de entrevistas e visitas a diferentes vilas, conhecendo projetos sociais. Através das coisas que ela conta, pude descobrir um pouco de uma Buenos Aires que nunca teria acesso, seja como turista ou como moradora da capital, afinal somente se pode chegar nessas vilas com algum morador do lugar te “escoltando”.

Hoje me mostrou um livro, chamado “Ojos y vocês de la isla” (Olhos e vozes da ilha) que é resultado de uma série de oficinas sobre jornalismo e fotografia que aconteceram na Ilha Maciel, que está a 15 minutos do centro da cidade, próximo ao turístico bairro de La Boca (onde fica o Caminito), apenas atravessando o Riachuelo, rio que banha Buenos Aires.

O livro é um compilado de fotos e textos feitos pelos jovens moradores da ilha, onde contam a triste realidade em que vivem. Deixo aqui trechos de um texto que resume muito bem o dia-a-dia dos jovens daí e me fez lembrar as favelas que também temos:

“Vivir em La isla Maciel

Nosotros, los que vivimos acá, sabemos quién es quién: quien roba, trabaja o vende droga. Pero no es facil. La isla cada año se cierra más. Antes los turistas entraban. Ahora nos miran de lejos.

…la vida de los jóvenes carece de sentido. De lunes a lunes, siempre es lo mismo. Se levantan a las 11, desayunan pan con mate, se sientan adelante hasta que les agarra hambre, almuerzan un guiso, duermen, vuelven a comer y salen durante toda la noche.

…A pesar de todo esto, tengo un sueño: que la isla vuelva a ser como antes, cuando nuestros familiares y amigos podían entrar y salir sin que tengamos que hacerles una custodia personal.”

Traduzido:

“Viver na Ilha Maciel

Nós que vivemos aqui, sabemos quem é quem: quem rouba, trabalha ou vende droga. Mas não é fácil. A ilha a cada ano se fecha mais. Antes os turistas entravam. Agora no olham à distância.

...a vida dos jovens não tem sentido. De segunda a segunda, é sempre o mesmo. Se levantam as 11h, tomam café da manhã com pão e chimarrão, sentam-se na frente de casa até que tenham fome de novo, almoçam guizado, dormem, voltam a comer e saem durante toda a noite.

...Apesar de tudo isto, tenho um sonho: que a ilha volte a ser como era antes, quando nossos familiares e amigos podiam entrar e sair sem que tenhamos que fazer um escolta pessoal à eles.”

14 de jun. de 2010

Bicentenário da Argentina

Desde a primeira vez que vim a Buenos Aires em 2008 já se falava dos "festejos" do bicentenário que aconteceria em 2010 e eu tive a grande honra de estare vivendo aqui esse ano e poder de alguma maneira entrar pra história Argentina só por ter vivenciado tudo que aconteceu nos 5 dias de festa.

Dia 25 de maio completavam 200 anos da pátria Argentina e como prometido a cidade de Buenos Aires parou para festejar essa data histórica. Digo parou porque para montar o palco principal onde teriam os shows e toda a gigante estrutura de stands e restaurantes foram interrompidas  seis quadras de uma das maiores avenidas daqui a 9 de julho onde fica o Obelisco.

No dia D, 25 de mayo, feriado na cidade, eu e Lenice (na foto aproveitando a Corrientes também cortada, hehe), sáimos de casa super nacionalistas, com nosso escarapela (bóton com as cores da Argentina que ganhamos da dona da casa) para aproveitar os festejos.

Entre as diversas atividades teve a reabertura do Teatro Colón, tão esperada e projeções em 3D no Cabildo, prédio histórico (abaixo vídeo, muito lindo!):



Muito lindo ver tanta gente na rua, com suas bandeiras, famílias inteiras festejando o "aniversário" do país. Dizem que foi o evento histórico que mais convocou gente na história do país!


17 de mai. de 2010

Eu voltei e vim para ficar...

Poxa não tinha me dado conta de quanto tempo abandonei meu blog...um mês! E juro que não foi por falta de histórias pra contar, afinal cada dia e uma descoberta aqui, ainda hoje!

Volto a pedido de pessoas queridas, que dizem buscar novas histórias minhas por aqui e ultimamente ando decepcionando um pouco elas! Então aqui estou, no dia do meu niver, retomando a escrita. Mais um niver aqui, longe da família mas como disse no outro ano, perto de muitos novos afetos que conquistei por aqui.

Ontem mesmo tive um dia maravilhoso com uma familia brasileira que me "adotou" como filha do coração...um churrasco gaúcho, passeio no parque e desejo de feliz aniversário. Pessoas muito especiais como tantas outras que conheci por aqui e cuja amizades ficarão para sempre! Só tenho que agradecer, adoro muito todos!

Além disso, nada melhor que acordar com as ligações emocionadas do meu papi e da minha mami e um lindo e-mail da minha maniuska Gabi, AMO muito voces!!!

 FELIZ NIVER pra mim!! Bjs e até breve!!


Papis do coração - Luis e Eusária

12 de abr. de 2010

Teatro Colón - nem tudo é lindo como parece!

O Colón é o teatro mais tradicional da Argentina, inaugurado em 25 de mayo de 1908, e palco de grandes espetáculos, representados por nomes importantes da música e do teatro mundial. Tem como uma das principais características o fato de ser um teatro de produção, ou seja, muitas das grandes óperas e obras representadas foram totalmente "montadas" dentro do teatro, escenografia, vestuario, máquinas, maquiagem, tudo!!
Depois de anos fechados por reformas, atrasada por várias brigas políticas, o atual prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri (conhecido por não dar bola pra cultura) anunciou a reabertura do Colón para mayo de 2010, juntamente com os festejos do bicentenário da nação Argentina. Até aí tudo bem...ótima notícia para o povo Argentino, que vê esse teatro como um símbolo de sua cultura.
Mas existe um lado não contado nessa história e que descobri hoje quando vi um documentário realizado por alunos da UBA. Eles mostram a indignação dos trabalhadores do teatro com a reforma, já que grande parte da estrutura original do teatro não foi mantida, comprometendo inclusive a acústica do lugar, segundo os arquitetos escutados no documentário.
O principal medo é que Macri queira transformar o Colón em um teatro para receber grandes obras vindas do exterior, já que grande parte dos "talleres" (locais usados para produção de cenografia, vestuário, etc) foram destruídos na obra, para se transformarem em salas de ensaio, confeitarias e outras coisas. Como dizem: Macri quer transformar o teatro em um shoping.
Escrevo isso como futura gestora cultural, indignada com o descaso para com a cultura por parte de Macri e que espera que novos erros como esse não sejam cometidos! Deixo os links para o documentário:


8 de abr. de 2010

Rosário

As opiniões se dividiam quando dizia que ia visitar Rosário na Páscoa. Uns diziam que era uma cidade linda, outros perguntavam o que eu ia fazer lá...resolvi tirar minhas próprias conclusões! Rosário é a segunda maior cidade da Argentina depois da Capital e ainda assim tem um ar de interior.
A cidade fica na beira do Rio Paraná e tem uma costanera linda, com parques, bares, passeios de barco e até uma "praia" que não pude conhecer mas dizem que é linda.
Foi lá que Gal. Belgrano hasteou a bandeira Argentina pela primeira vez e por isso construíram o Monumento a la Bandera, prédio histórico muito lindo, quase na beira do rio, vale o passeio!
Fora isso a noite de Rosário é bem agitada, não conheci muitos lugares mas o pub Red Lion é fantastico, com muita gente linda! (dizem que as mulheres mais lindas da Argentina são de lá...)
Enfim é uma cidade linda sim, vale o passeio de um fim de semana se tiver por aqui, já que fica "perto", apenas 4h de viagem e os preços são em geral mais baixos que Buenos Aires.

22 de mar. de 2010

El Gato Negro

El Gato Negro é um café localizado na Av. Corrientes, 1669, um dos bares notáveis da cidade de Buenos Aires. Quando entramos iniciamos uma viagem pelo tempo, já que os móveis se mantém no mesmo estilo de quando o café foi aberto em 1928.


Além de cafés e bolos deliciosos (eu provei um bolo de laranja com gengibre com gosto de bolo de vó), encontramos todos tipos de chás  e temperos pra vender, uma boa sugestão de presente pra quem gosta deste tipo de coisas.
Parte da experiência é sentir o metro passando embaixo da gente enquanto estamos sentados, divertido!

17 de mar. de 2010

Inflação

Como todo retorno de uma viagem longa, não tinha absolutamente nada pra comer em casa. Fiz uma lista e fui ao mercado...me apavorei! Todos os preços aumentaram e a carne então muito mais. Só para terem uma idéia uma carne que se comprava em dezembro a $18 o kilo hoje sai por $25. Parte disso se dá pelos intermináveis conflitos entre o campo e o governo. Existe até uma campanha para que a população deixe de comprar carne, para tentar reverter o aumento de preço. Como li num jornal o símbolo da alimentação Argentina virou um luxo. Já estou pensando em aderir à campanha, mas para isso terei que aprender receitas novas...vivendo e aprendendo!

9 de fev. de 2010

Viagem pela história

Mesmo não estando em BAS, sigo buscando coisas interessantes que estão acontecendo por lá. Entrando na página de cultura da "prefeitura", descobri um programa bem legal pra quem gosta de história e teatro. Desde janeiro estão sendo realizadas visitas guiadas teatralizadas, onde personagens levam o público a uma viagem no tempo, por diferente lugares da cidade. Uma maneira diferente de conhecer bairros e pontos turísticos!  Mais informações no site: http://www.buenosaires.gov.ar/areas/cultura/al_dia/historia_lugar.php?menu_id=20277 

25 de jan. de 2010

Diccionario del habla de los Argentinos

Já falei em outro post sobre a "língua' que os argentinos falam e tanto me fascina. Hoje lendo a ZH descobri que assim como nós temos nosso Dicionário de Porto Alegrês, existe o Diccionario del habla de los Argentinos.
O dicionário foi lançado na argentina em 2003 e surgiu da pesquisa de 11 membros da Academia Argentina de Letras que durante 5 anos compilaram gírias usadas desde a época de Evita, que usava a expressão " cabecitas negras" para referir-se carinhosamente às massas trabalhadoras, até as usadas atualmente como o  famoso "boludo" já explicado no meu outro texto.
Certamente será minha próxima aquisição quando voltar pra Buenos, já que sou uma curiosa sobre o assunto. Pra quem se interessa, em abril lançam aqui no Brasil a versão em portugûes (pelo menos foi  que entendi na reportagem):

Diccionario del habla de los Argentinos - Pedro Luis Barcia (org.)    Editora Emecê

18 de jan. de 2010

Epístola aos Blogueiros

Na minha primeira postagem do ano vou fazer algo diferente! Já que estou longe de Buenos Aires, sem novas descobertas por enquanto (apesar de seguir me informando do que acontece por lá, não as estou vivendo!), coloco aqui um texto muito legal que descobri do nosso escritor Carpinejar, feito especialmente para os blogueiros e que leva o titulo desse post. Aproveitem!

"Nunca invejei Santo Agostinho pela sua salvação. Não conseguiria repeti-lo. Guarda-se a impressão de que ele quis se livrar da danação no ombro do Pai. Olhando de perto, ele foi mais corajoso do que conformista. Antecipou o inferno. Não esperou para sofrer na outra dimensão. Pagou à vista o inferno. Converter não é encontrar Deus, é encontrar o inferno.
Blog é prova de resistência. Um big brother ao avesso dos gêneros literários. Em vez de ser conhecido, corresponde a mergulho no anonimato. Distinto da noção do senso comum de que se trata de um lugar para aparecer. O resultado final (a possível badalação de um endereço virtual) não expõe a realidade. Os exibidos foram antes tímidos, os extrovertidos foram antes introvertidos. É a mais dolorida experiência editorial. O mais severo teste vocacional. Uma ferramenta do diabo, capaz de sugar sua vida ou sua aspiração.

Indica a fronteira entre o amador e o escritor, entre o diletante e o renitente, entre o curioso e quem não consegue se afastar da compulsão narrativa. O amador cansará nos primeiros meses. Vai deduzir que não vale a pena o trabalho, que ninguém lê. Uma tortura postar textos durante três meses e não receber nenhum comentário. São os 40 dias do deserto, com as tentações sobrevoando o teclado. "Então Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo demônio e, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, teve fome" (Evangelho de Mateus, capítulo 4, versículo 1).
Você pensou que aquilo seria a glória instantânea. Caprichou na redação, no humor e nas perspectivas singulares de captura do cotidiano. Mas o único que entra no site é você. Chega a esbarrar consigo entre tantos acessos e atualizações. Uma miragem. Cada texto é um quarto vago. Procura contornar o drama. Manda um aviso de postagens para os amigos; manda um aviso de postagens para os desconhecidos, catando endereços aleatórios. Nada mais o separa de um Spam. Recebe avisos ásperos: "não o conheço" ou "favor me excluir da lista". A humilhação não começou. O desespero o obriga a fazer atos impensáveis: entrar de computadores diversos para fazer com que o contador se mexa de alguma forma. Assim como um atacante chuta a bola para as redes alheio à marcação do impedimento. Para se livrar do azar. Ainda que esteja quebrando uma das regras básicas do jogo e leve um cartão amarelo. Não há nem juiz para lhe dar cartão amarelo.
Percebe que lançou um texto com um erro gravíssimo de português. Estava na rua quando lembrou a indecisão ortográfica, longe de qualquer terminal. Corre para uma lan house, consome seu suspiro sem sentir o gosto, arruma e conclui que tampouco alguém reparou.
Decide escrever qualquer coisa que continuará sendo qualquer coisa. O isolamento do blog produz alucinações. O contador de visitas parece uma bomba-relógio: anda para trás. Mas tortura é quando finalmente recebe um comentário. Alegria aflita para abrir a janela, quem será? quem será?, descobre que partiu do pai ou da mãe, solidário com sua desgraça.
Sua personalidade passará a se dividir, e não multiplicar como desejava. Sede de laranjas. Laranjas! Sem pudor, cria pseudônimos para deixar comentários (o blog, pelo menos, obriga que seja seu próprio leitor). Diverte-se no sofrimento ao inventar formas de agradecimento pelos textos. Não economiza elogios ao estilo. Estará perto da internação quando se convence de que aqueles comentários não são seus e ainda responde aos e-mails falsos. Hora do soro!
Escrever na rede é uma tentativa de suicídio, chamar atenção dos outros para a nossa carência. Um aviso escandaloso da nossa fragilidade. Pensando bem: publicar é um suicídio frustrado. Quando o ímpeto de sair da vida é usado para entender a própria vida e as dificuldades enfrentadas pelos demais autores.
Uma das virtudes do blog é sua provação. Agüentar os contratempos no osso. Ver que não é um elogio que o fará continuar, muito menos uma crítica que o fará desistir. Que nascer para a letra é amar a insuficiência. O escritor se sucede progressivamente. Melhora. Estar sozinho é ainda estar povoado. Povoado por dentro. Pelos personagens, pelas histórias familiares, pela observação aprofundada dos seus arredores. Só quem foi fantasma um dia poderá alimentar seus fantasmas. Procura-se um reconhecimento externo e encontra-se algo mais preciso: a afirmação pessoal na persistência. Procura-se lá fora o que já se tinha. Como diz Santo Agostinho: "Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim."
O esforço de sair da solidão ajuda curiosamente a fortalecê-la. Compreende que não escreve para completar um diário, ou para repetir sua história, se fosse assim não contaria com assunto para atualização semanal, mesmo que desfrutasse uma trajetória acidentada e heróica como a de Hemingway. Escreve para duvidar e se banhar na luminosidade da confusão biográfica.
Um texto postado é como um texto impresso. Mais fácil para localizar os erros, os tropeços, formar distanciamento. Confere uma maioridade na escrita, reforça uma postura profissional de jardinar e cuidar do verbo, de alterar a prosa e a poesia em nome da transparência e da fluidez. Há a formação gradual de uma assinatura, transmitindo uma visão de ser responsável por aquilo que se diz, de assumir honestamente as dívidas da boca. Organiza-se o rascunho, que é bem mais duro do que redigi-lo.
Não é fácil a rotina da blogosfera. Terá que superar vários fins, várias negativas, várias mortes. Superar a expectativa de fama pelo prazer do texto. Por isso, o prazer necessita ser mais forte do que a dor. O masoquista é o que gosta mais do sofrimento do que da carícia. O blogueiro é o que esquece a ferida pela alegria. A diferença entre guardar o inédito no blog e na gaveta: o blog é uma gaveta aberta. "